sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Até o inanimado ensina o Dharma







"Não guarde o que não vale a pena.
Não fale sobre o que não viu.
Não se associe ao maldoso.
Não desperte maus pensamentos."


(Texto: Venerável Mestre Hsing Yün | Foto: Divulgação)
Podemos dividir os fenômenos caleidoscópicos do mundo em dois diferentes grupos: seres sencientes e seres inanimados. Seres sencientes são humanos, pássaros, animais, enquanto os inanimados são montanhas, rios, árvores, flores, entre outros. Quando um ser senciente ensina o Dharma, podemos ouvi-lo; quando um ser inanimado o faz, isso é ainda mais aprazível e tocante. “Quando o mestre Daosheng expõe o darma, até a mais dura rocha concorda.” Nesse caso, não é só o mestre Daosheng que está ensinando o dharma. 
A dura rocha também está ensinando. Se a dura rocha não estivesse ensinando, como poderia ela concordar?
Vemos nuvens brancas flutuando livremente no céu e rios fluindo sinuosos e serenos para o mar; a naturalidade das nuvens brancas e a serenidade dos rios nos mostra o quão libertos eles são. Vemos a mudança das estações, a passagem do tempo, as flores que desabrocham para depois murchar, o envelhecimento das coisas – esse é o modo como a natureza nos ensina o significado da impermanência.
Podemos usar nossos ouvidos para escutar os ensinamentos dos seres sencientes, mas devemos usar nosso coração para ouvir o inanimado. Na verdade, tudo em nossa vida diária nos ensina alguma coisa. As flores da primavera e a lua de outono são agradáveis de observar, os pássaros que cantam e os insetos que zumbem deliciando nossos ouvidos. Mesmo o chá do mestre Ch’an Zhaozhou e os biscoitos do mestre Ch’an Yunmen são instrumentos para ensinar o dharma. Seja o som do tambor, seja o soar do sino do templo quando amanhece e anoitece ou a sinfonia dos diferentes instrumentos de darma, tudo ensina o dharma.

Desastres naturais são um meio usado pela Terra para nos lembrar de quão frágil é o nosso mundo; por meio das flores murchas, a natureza nos ensina sobre a impermanência da vida. Guerras e batalhas evidenciam o sofrimento e o vazio da vida; a doença, o envelhecimento e a morte mostram que nosso corpo é fonte de sofrimento. Olhe à sua volta durante o dia. Não importa o que você esteja fazendo – se vestindo, comendo, descansando, viajando, caminhando, sentando, aguardando, dormindo –, em tudo poderá ver o surgimento, a existência, a mudança e a extinção de todos os fenômenos. Testemunhamos o nascimento, o envelhecimento, a doença e a morte dos seres sencientes. Todas essas coisas nos ensinam o dharma.

Um mestre Ch’an pegou um espanador e disse: “Você entende?”. Se entender o significado disso, você é iluminado. Um mestre Ch’an pode apontar para uma árvore no jardim e perguntar: “Você sabe?”. Se souber, você é um praticante Ch’an. Entretanto, o eco de um vale profundo ou a música da natureza não são tão fáceis de entender. “Coma quando tem fome e vá deitar-se quando tiver sono” é o dharma do dia-a-dia. “Dar sem apego e ajudar os outros abnegadamente” é a mais elevada forma de ensinamento. Se você puder ouvir não apenas os ensinamentos dos seres sencientes, mas também compreender os ensinamentos do inanimado, terá descoberto o significado da vida. Poderá, então, livrar-se da ignorância e tornar-se iluminado.



Créditos:
Venerável Mestre Hsing Yün é o 48º patriarca do budismo chinês da escola Ch’an. Fundador do Monastério Fo Guang Shan, em Taiwan, e do Templo Zu Lai, em Cotia (SP), entre outros ao redor do mundo.

Um comentário:

Anônimo disse...

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